Meditações
Gratidão e Humanidade
A gratidão é o que constitui a humanidade na pessoa. O ingrato ainda não se descobriu realmente como pessoa, pois vive de si mesmo para si mesmo. E justamente a qualificação humana é humanizar.
“Um mestre e seus discípulos iam por uma estrada e, quando passavam por uma ponte, viram um escorpião sendo arrastado pelas águas. O mestre correu pela margem do rio, meteu-se na água e pegou o bichinho na mão. Quando trazia para fora, o bichinho o picou e, devido a dor, o homem deixou-o cair novamente no rio.
Foi então à margem, tomou um ramo de árvore, adiantou-se outra vez a correr pela margem, entrou no rio, colheu o escorpião e o salvou. Voltou o mestre e juntou-se aos discípulos na estrada. Eles haviam assistido à cena e o receberam perplexos e penalizados.
-Mestre, deve estar doendo muito! Por que foi salvar esse bicho ruim e venenoso? Que se afogasse! Seria um a menos! Veja como ele respondeu a sua ajuda! Picou a mão que o salvara! Não mereci compaixão.
O monge ouviu tranquilamente os comentários e respondeu:
-Ele agiu conforme a sua natureza, e eu de acordo com a minha”. (William Sanches – Pedagogia do Compromisso)
O ser humano tem o poder de construir relações de cuidado, de proteção, de solidariedade e de paz, como também, de criar violência, injustiça e morte. A transcendência de criatura criada por Deus para filho amado de Deus acontece quando aprendemos a cuidar, e abandonamos a violência e a injustiça.
Gratidão é ser justo pelo que Deus nos oferece, e solidário oferecendo aos outros o mesmo.
Paz e graça.
P. Olmiro Ribeiro Junior
Estrela do Mar
Era uma vez, um escritor que morava em uma tranquila praia, junto de uma colônia de pescadores. Todas as manhãs, ele caminhava à beira do mar para se inspirar e à tarde ficava em casa escrevendo.
Certo dia, caminhando na praia, ele viu um vulto que parecia dançar. Ao chegar perto, ele reparou que se tratava de um jovem que recolhia estrelas-do-mar da areia para, uma por uma, jogá-las novamente de volta ao oceano.
– Por que está fazendo isso? Perguntou o escritor.
– Você não vê! Explicou o jovem: a maré está baixa e o sol está brilhando. Elas irão secar e morrer se ficarem aqui na areia.
O escritor espantou-se.
– Meu jovem, existem milhares de quilômetros de praias por este mundo afora e centenas de milhares de estrelas-do-mar espalhadas pela praia. Que diferença faz? Você joga umas poucas de volta ao oceano. A maioria vai perecer de qualquer forma.
O jovem pegou mais uma estrela na praia, jogou de volta ao oceano, olhou para o escritor e disse:
– Para essa aqui eu fiz a diferença.
Naquela noite o escritor não conseguiu escrever sequer uma linha, nem conseguiu adormecer. Pela manhã, voltou à praia, procurou o jovem e uniu-se a ele, juntos, começaram a jogar estrelas-do mar de volta ao oceano.
Sejamos, portanto, mais um dos que querem fazer do mundo um lugar melhor. Sejamos a diferença!
“Não importa o quanto fazemos, mas, quanto amor colocamos naquilo que fazemos.”
Madre Teresa de Calcutá
A fábula narrada é bem conhecida, como a necessidade de solidariedade e de gratidão também o são. O importante não é o quanto saibamos, mas o quanto da nossa sabedoria, do nosso entendimento e conhecimento, é utilizado para melhorar a vida de outras pessoas.
Na Reforma Protestante, Martinho Lutero utilizou o seu conhecimento e sua vida para que as pessoas pudessem viver com um Deus gracioso, propiciando que elas aprendessem a viver gratas pelo que Deus nos oferece, e, solidárias, as pessoas que ainda não descobriram tudo o que têm e tudo que é ofertado por Deus.
Paz e graça.
P. Olmiro Ribeiro Junior
Salmo 33
Ser grato é reconhecer que a vida não está centrada em nossas mãos, e principalmente, que o nosso ilimitado poder não vai além do alcance dos nossos braços. Assim, necessitamos reconhecer as pessoas que nos estendem a mão, mas principalmente agradecer a Deus, que aproxima as pessoas, cria a vida, as mãos e a possibilidade delas se encontrarem, tocarem e trocarem experiências.
“Alegrem-se em Deus, vocês que são justos, pois aos íntegros convém o louvor. Louvem a Deus com harpa, cantai a ele com o saltério e um instrumento de dez cordas. Cantem um cântico novo; tocai bem e com júbilo. Porque a palavra do SENHOR é reta, e todas as suas obras são fiéis. Ele ama a justiça e o juízo; a terra está cheia da bondade do SENHOR. Pela palavra do SENHOR foram feitos os céus. Ele ajunta as águas do mar como num montão; põe os abismos em depósitos. Tema toda a terra ao SENHOR; temam-no todos os moradores do mundo. Porque falou, e foi feito; mandou, e logo apareceu. O SENHOR desfaz o conselho dos gentios, quebranta os intentos dos povos. O conselho do SENHOR permanece para sempre; os intentos do seu coração de geração em geração. Bem-aventurada é a nação cujo Deus é o SENHOR, e o povo ao qual escolheu para sua herança... Eis que os olhos do SENHOR estão sobre os que o temem, sobre os que esperam na sua misericórdia; Para lhes livrar as almas da morte, e para conservá-los vivos na fome. A nossa alma espera no SENHOR; ele é o nosso auxílio e o nosso escudo. Pois nele se alegra o nosso coração; porquanto temos confiado no seu santo nome. Seja a tua misericórdia, SENHOR, sobre nós, como em ti esperamos”.
O Salmista no salmo 33 destaca a importância de reconhecer a ação de Deus em nossa vida. Um deus que está na criação, que está no pulsar da nossa vida, e que quer ser animo, força, esperança e alegria em nosso caminhar.
A gratidão supera o supérfluo e o desnecessário da vida. Ela torna o que temos em suficiente, e mais. Ela torna a negação em aceitação, caos em ordem, confusão em esperança. Ela pode transformar uma refeição em um banquete, uma casa em um lar, um estranho em um amigo. A gratidão dá sentido ao nosso passado, traz paz para o hoje, e cria uma visão com esperança para o amanhã.
P. Olmiro Ribeiro Junior
"A Gratidão é a memória do coração." (Antístenes)
“O que eu gostaria de dizer, Senhor, é que não sei de onde venho e quando eu vim para esta morte viva. Ou deveria eu chamar morte em vida? Eu não sei. Ainda assim os presentes de sua misericórdia me têm mantido em pé desde o mais tenro começo. - não que eu lembre tanto tempo, mas escutei dos meus pais naturais, através de quem você primeiro me fez um ser vivo. "
Quando leite humano me alimentou para ‘meu desenvolvimento’, não eram os seios da minha mãe que me alimentavam, mas você próprio quem providenciou que eu fosse alimentado com alimento infantil - uma vez que sua generosidade opera em todos os níveis do universo. Você providenciou que eu desejasse mais do que você ‘ofertou’ e aos outros que ‘ofertassem’ o que eu precisava. Eles fizeram isso com afeto intuitivo a partir da abundância que você deu a eles. Era bom para eles e bom para mim, ainda que a bondade deles realmente viesse não deles, mas através deles. Você, Deus, é a fonte de todas as coisas boas. Do meu Deus vem toda riqueza. Isto é o que descobri e você fez abundantemente, claro, pelo que vi, tanto em mim quanto naqueles ao meu redor”. Martinho Lutero
A gratidão nos ensina a viver a vida de uma forma leve, alegre e esperançosa. Ela nos faz perceber a mão divina nas coisas simples, e assim, nos torna próximo a Deus. A gratidão nos mostra a beleza da flor na imensidão de uma floresta, a pureza do canto de um pássaro num lugar deserto, nos mostra o que é belo e desinteressado... A gratidão nos motiva fazer o bem, a divulgar o belo e a reconhecer o divino.
A gratidão é a arte do bem viver, a ciência do relacionamento a oração da existência.
P. Olmiro Ribeiro Junior
Bondoso Deus - Partilha
Bondoso Deus. A tua mesa é farta e Santa. Que nossa bondade seja tanta ao repartir, com alegria, o pão, a nossa vida e o coração.
Bondoso Deus tua mesa é justiça - em esperança. Que na força desta união a nossa vida torne-se uma constante partilha. E teu reino de amor esteja conosco dia a dia.
Bondoso Deus, tua mesa é anuncio da graça, de perdão. É também denúncia da desgraça e exclusão, nos motivando para que no mundo novo em construção, não nos encontre egoísta, individualista na omissão da partilha do que é teu.
Nossa vida, nossa alegria, nosso compromisso...
Um exemplo de partilha encontrada nas andanças de Jesus é a multiplicação dos pães, que pode ser interpretado da seguinte forma:
Jesus fez um grande milagre? Será que foi um milagre mágico, em que os pães e os peixes se multiplicaram na benção. Ou será que o milagre ocorrido foi o da solidariedade e da partilha. Cada um compartilhou o pouco que tinha para si, e na união, na partilha, e na benção foi o necessário para todos. Nenhum viajante sairia sem o lanche do dia para uma viagem naquela época.
A partilha nos fala sobre agradecer! Partilhar é oferecer o que temos, não a nossa sobra, o que não queremos ou não precisamos. Partilhar e dispor algo que é nosso para alguém que precisa o tanto quanto nós precisamos. Partilha verdadeira ocorre quando reconhecemos a face de Deus na pessoa que comunga seja o pão, o espaço, a vida, o estudo, o trabalho, conosco. Partilhar significa ser as mãos de Cristo realizando o milagre da multiplicação da solidariedade, vencendo o individualismo, o egoísmo e a falsa generosidade, que está exclusivamente preocupada com a sua sobrevivência. Seja a luta por pão, por espaço religioso, de trabalho ou poder.
Bondoso Deus que ages como Mãe e Pai, ao partimos o pão mais uma vez seguindo o teu exemplo, olhamos para Ti e confessamos nossos desejos...
Acompanha-nos em nossas atividades, protege-nos nas dificuldades. Acolhe-nos em nossas necessidades, porém, mais do que isso: Ensina-nos a partilhar nossos bens, nossos dons. Ensina-nos a nos tornar tuas mãos, teu amor e teu abraço. Dá-nos coragem para romper tudo que nos separa de ti e de nossos irmãos e irmão.
Que tu estejas conosco nesta partilha, assim como estiveste com teus discípulos. Alimentando o corpo, consolando os pesares, alentando a esperança, fortificando a fé.
Amém.
P. Olmiro Ribeiro Junior
O Coração Perfeito
“Certo dia, um jovem sentou-se no meio de um povoado e anunciou que possuía o coração mais formoso de todo o lugar. Uma grande multidão reuniu-se em seu redor; todos o admiraram e confirmaram que seu coração era perfeito e concordaram que era o coração mais formoso que já tinham visto. Neste instante, chegou um homem já idoso e disse: Por que dizes isto? O teu coração não é tão formoso quanto o meu! Surpresos, a multidão e o jovem olharam o coração do senhor e viram que, apesar da idade, pulsava vigorosamente, mas estava coberto de cicatrizes e até havia lugares que faltava pedaços, e estes, haviam sido substituídos por outros que não encaixavam perfeitamente em seu lugar, pois se viam bordas e arestas irregulares. E mais, havia lugares com buracos, onde faltavam pedaços grandes. O olhar das pessoas demonstrava surpresa.
O senhor idoso então disse: O teu coração parece perfeito, porém falta algo... Veja, Deus tem me amado, e assim, aprendi a amar as outras pessoas. Cada cicatriz representa uma pessoa à qual entreguei todo o meu amor. Arranquei partes do meu coração para entregá-las a cada um daqueles que eu tenho amado. Muitos, por sua vez, têm me oferecido uma parte do seu coração, que foi colocada nos lugares que estavam abertos. Como as partes não eram iguais, sobraram as bordas pelas quais me alegro, porque elas me recordam do amor que temos partilhado... Houve oportunidades nas quais entreguei parte do meu coração a alguém, porém esta pessoa não me ofereceu um pedaço do seu em troca. Dali vieram os buracos... Dar amor é arriscar! No entanto, apesar da dor que essas feridas produzem por terem ficado abertas, lembram-me de que as sigo amando alimentando a esperança de que algum dia talvez regressem e preencham o vazio que deixaram em meu coração. Compreendes agora o que é verdadeiramente formoso?
O jovem permaneceu em silêncio, lágrimas corriam no seu rosto, aproximou-se do senhor idoso, tirou uma parte do seu formoso e jovem coração lhe ofereceu. O senhor idoso o recebeu e o colocou em seu coração, por sua vez arrancou uma parte do seu já velho e tampou o buraco no coração do jovem. A peça se moldou, mas não com perfeição como antes, por não serem idênticas as partes, notava-se as bordas. O jovem olhou seu coração que já não era perfeito como antes, porém, agora parecia muito mais formoso, belo e vivo. O amor do senhor pulsava dentro do seu coração.”
(autor desconhecido)
O amor faz com que a nossa vida se abra para as outras pessoas. Assim, conseguimos superar o medo, o egoísmo, o individualismo. O amor partilhado é a cura, o remédio para os nossos males do ódio, da indiferença, da descrença, da violência e do egoísmo.
Tem partilhado a tua vida? O teu coração?
P. Olmiro Ribeiro Junior
Relações Descartáveis
Hoje quando vejo nas prateleiras das farmácias e dos supermercados os pacotes coloridos das fraldas descartáveis meus pensamentos me levam para um passado recente e posso ver minha mãe cuidando das fraldas de pano de meu irmãzinho. Quanto tempo ela utilizava para lavá-las, secá-las e passá-las. Imagino que tanto cuidado com as fraldas era uma maneira dela dizer para meu irmãozinho o quanto ela o amava. Mesmo que as fraldas descartáveis possam agilizar a nossa vida elas não traduzem com fidelidade os sentimentos de cuidado, carinho e amor das ultrapassadas fraldas de pano. Então, o que fazemos com o tempo que as fraldas descartáveis nos presenteiam?
Uma das facilidades que se encontra em tempos atuais são os objetos descartáveis. Você já percebeu quantos produtos descartáveis fazem parte do seu dia-a-dia? Sim! São inúmeros produtos: copos, garrafas, sacolas, talheres e tantas outras coisas que usamos uma vez e, depois, com facilidade, são jogados fora. De modo geral, os produtos descartáveis vieram para deixar a vida mais simples e, normalmente, podem ser destinados para a reciclagem. Mas o seu uso também traz conseqüências para a vida do planeta, pois grande parte deles acaba na beira das estradas, entupindo bueiros e poluindo o meio-ambiente.
A ideia de que existem coisas que se pode usar e, logo depois, se descartar está bem enraizada no pensamento da pessoa moderna. Gostamos da facilidade e da praticidade que o modernismo introduziu em nosso dia-a-dia. Sendo assim, o relacionamento com o descartável vai muito bem. Obrigado! Em nossa vida usar e jogar fora não causam mais espanto em homens e mulheres. Aliás, o que causa estranheza é quando se compra algo que é retornável. Definitivamente a humanidade ingressou na era do descartável.
Atualmente não é difícil encontrar homens e mulheres que estabelecem um relacionamento tendo como base a ideia do descartável. A união entre as pessoas está estabelecida sob este pensamento: “se não der certo cada uma para o seu lado”. Este jeito de pensar retira do pacto entre as pessoas o respeito e o cuidado que é condição para que a vida a dois se torne duradoura e eterna. Além disso, não existe o desejo de se colocar a união de duas pessoas diante de Deus e sob a sua proteção e bênção.
A facilidade com que substituímos e lançamos para longe de nossos olhos, objetos e pessoas também se reflete na nossa relação com Deus. Não precisamos da força divina em nossa vida e não desejamos a sua intromissão em nossos momentos de alegria e felicidade. Temos uma tendência em descartar Deus de nosso cotidiano. Inclusive em nossas comunidades e em nossa espiritualidade o descartável está presente. Em nossa vivência de fé nada é definitivo, vamos à busca daquilo que nos agrada mais e supre as nossas necessidades momentâneas.
Nesta mentalidade, a vida torna-se insaciável, ingrata e insensível, pouco, ou quase nada parece ter valor, pois tudo pode ser trocado. As conquistas tornam-se momentos, as relações interesses, as pessoas um número e a vida um loucura frenética em busca de prazer, de aceitação, de acumulo, ou seja, um grande lixo descartável.
Urgimos em resgatar a preciosidade da vida, das relações como construção da humanidade, da fé com força transformadora, do amor que vence a indiferença e da esperança que nos permite valorizar o hoje na construção de um amanhã melhor.
“Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros nos céus, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração.” (Mateus 6.19-21).
O que é precioso na sua vida, pelo quê vale a pena viver?
P. Olmiro Ribeiro Junior
Rendei graças ao Senhor!
“Rendei graças ao Senhor, porque Ele é bom e a sua misericórdia dura para sempre. O Senhor dá sustento aos que o temem; lembrar-se-á sempre da sua aliança.”
Agradecer a Deus é demonstrar nossa fé e confiança nele. É demonstrar nosso reconhecimento pelas bênçãos que Deus nos dá. Mesmo que muitas vezes passamos por momentos difíceis em nossa vida, agradecemos a Deus, pois Ele é a nossa força e o nosso amparo em todos os momentos. Quero compartilhar com vocês uma história que li esses dias e me chamou muita atenção. Desconheço o autor.
“Conta-se que no interior de um pequeno município, havia um agricultor. Um agricultor que reclamava de tudo e de todos. Para ele, tudo: a lavoura, a colheita, a comida em casa, os filhos; tudo estava ruim, nada estava bom. A comunidade da qual ele dizia fazer parte, havia decidido celebrar um culto de agradecimento a Deus pelas colheitas, pelo trabalho, enfim, por todas as bênçãos que Deus havia derramado até aquele dia. Mas para aquele agricultor, em seu pensamento, não havia razão nenhuma, em ir à igreja e agradecer a Deus.
Enquanto tratava os porcos na manhã daquele domingo, ouvia o sino de sua igreja tocar. E, consigo mesmo pensava:
"Hoje o sino da igreja poderá tocar o dia inteiro que não me levará ao culto. O que vou fazer lá? Vou ouvir o pastor falar sempre a mesma coisa, que devemos demonstrar mais gratidão. Não tenho nada de especial para agradecer a Deus. Ou será que devo agradecer a Deus pela falta de chuva que prejudicou o meu milho? Ou devo agradecer a Deus pelos insetos que danificaram minhas frutas? Ou será que devo agradecer pela peste que matou algumas cabeças de gado?”
Enquanto refletia desta maneira, surge sua pequena filha: de banho tomado e pronta para sair.
“Pai!”, perguntou ela, “Nós não vamos ao culto hoje? Nós temos muito o quê agradecer a Deus. O senhor sempre teve saúde para trabalhar; o galpão ainda está cheio de milho do ano passado; sempre tivemos nosso pão e o leite; sempre pudemos passear com o nosso carro; e eu estou aqui de novo, depois que o médico disse que eu iria morrer. Vamos pai. Vamos ao culto para agradecer por tudo isto."
E o pai se levantou, se arrumou, e junto com a família foram ao culto, muito felizes e agradecidos.
Assim como o agricultor da história será que não temos visto somente as dificuldades e os problemas da vida? Será que nos esquecemos das tantas alegrias e bênçãos que Deus já nos presenteou e continua nos presenteando todos os dias?
Que lição de vida deu a filha pequena ao seu pai na história! Foi preciso que a filha mostrasse ao seu pai tantas coisas boas, tantas bênçãos que Deus havia concedido a ele e a sua família para que ele se desse conta do quanto era necessário ir ao culto e agradecer a Deus por tudo. E nós? Como estamos em nossa vida de fé?
Pa. Vivian Raquel Gehrke
A Vida é um Espelho
Ele quase não viu a senhora, com o carro parado no acostamento. Chovia forte e já era noite, mas percebeu que ela precisava de ajuda. Assim parou seu carro e se aproximou. O carro dela cheirava a tinta, de tão novinho. Mesmo com o sorriso que ele estampava na face, ela ficou preocupada. Ninguém tinha parado para ajudar durante a última hora. Ele iria aprontar alguma? Ele não parecia seguro, parecia pobre e faminto. Ele pode ver que ela estava com muito medo e disse: Eu estou aqui para ajudar a madame, não se preocupe. Por que não espera no carro onde está quentinho? A propósito, meu nome é Renato. (...)
Bem, tudo que ela tinha era um pneu furado, mas para uma senhora de idade avançada era ruim o bastante. Renato abaixou-se, colocou o macaco e levantou o carro. Logo ele já estava trocando o pneu. Mas ficou um tanto sujo e ainda feriu uma das mãos. Enquanto apertava as porcas da roda ela abriu a janela e começou a conversar com ele. Contou que era de São Paulo e que só estava de passagem por ali e que não sabia como agradecer pela preciosa ajuda. Renato apenas sorriu enquanto se levantava...
Ela perguntou quanto devia. Qualquer quantia teria sido muito pouco para ela. Já tinha imaginado todas as terríveis coisas que poderiam ter acontecido se Renato não tivesse parado e ajudado. Renato não pensava em dinheiro, aquilo não era um trabalho para ele. Gostava de ajudar quando alguém tinha necessidade e Deus já lhe havia ajudado bastante. Este era seu modo de viver e nunca lhe ocorreu agir de outro modo. E respondeu: Se realmente quiser me pagar, da próxima vez que encontrar alguém que precise de ajuda, dê para aquela pessoa a ajuda de que ela precisar. E acrescentou: “- E lembre-se de mim.”
Esperou até que ela saísse com o carro e também se foi. Tinha sido um dia frio e deprimente, mas ele se sentia bem. Alguns quilômetros abaixo a senhora parou seu carro num pequeno restaurante. Entrou para comer alguma coisa. Era um restaurante muito simples, e tudo ali era muito estranho para ela. A garçonete veio até ela e trouxe-lhe uma toalha limpa para que pudesse secar o cabelo molhado e lhe dirigiu um doce sorriso. A senhora notou que a garçonete estava com quase oito meses de gravidez, mas ela não deixou a tensão e as dores mudarem a sua atitude. A senhora ficou curiosa em saber como alguém que tinha tão pouco, podia tratar tão bem a um estranho. Então se lembrou de Renato. Depois que terminou a sua refeição, e enquanto a garçonete buscava troco para a nota de cem reais, a senhora se retirou. Já tinha partido quando a garçonete voltou. A garçonete ainda queria saber onde a senhora poderia ter ido quando notou algo escrito no guardanapo, sob o qual tinha mais 4 notas de R$ 100. Existiam lágrimas em seus olhos quando leu o que a senhora escreveu...
Dizia: Você não me deve nada, eu já tenho o bastante. Alguém me ajudou hoje e da mesma forma estou lhe ajudando. Se você realmente quiser me reembolsar por este dinheiro, não deixe este círculo de amor terminar com você, ajude alguém.
Bem, havia mesas para limpar, açucareiros para encher, e pessoas para servir e a garçonete voltou ao trabalho. Aquela noite, quando foi para casa cansada e deitou-se na cama, seu marido já estava dormindo e ela ficou pensando no dinheiro e no que a senhora deixou escrito. Como pôde aquela senhora saber o quanto ela e o marido precisavam disto?
Com o bebê que estava para nascer no próximo mês, como estava difícil. Ficou pensando na bênção que havia recebido, deu um grande sorriso, agradeceu a Deus e virou-se para o preocupado marido que dormia ao lado, deu-lhe um beijo macio e sussurrou: “Tudo ficará bem; eu te amo... Renato!”
Muitas e muitas vezes as pessoas passam pela nossa vida nos dando a chance de ajudar e de ser ajudado. Será que mantemos a solidariedade e gratidão aos outros, ou estamos preocupados demais conosco?
Voluntariado
“Eu acredito que o ato de se voluntariar, passando da condição de espectador a protagonista social, é um ato filosófico. (...)
“Eu acredito que o ato de se voluntariar, passando da condição de espectador a protagonista social, é um ato filosófico. Isso mesmo. Filosofia pura. Afinal de contas, a arte ou ciência de Sócrates, Aristóteles, Kant e tantos outros não é o gosto pelo conhecimento, o ser amigo do saber? Conheço poucas atividades que proporcionam ao ser humano mais conhecimento - especialmente autoconhecimento - do que o voluntariado. Sendo assim, creiam, sou voluntário, logo aprendo.”
Fonte: Revista Filantropia On Line - Outubro/2006 - Felipe Mello. Radialista, palestrante e diretor da organização não-governamental Canto Cidadão, fundada para produzir e democratizar informações sobre cidadania e direitos humanos.
Quanto Custa Agradecer?
“E aconteceu que, indo ele a Jerusalém, passava pela divisa entre a Samária e a Galiléia. Ao entrar em certa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez leprosos, os quais pararam de longe, e levantaram a voz, dizendo: Jesus, Mestre, tem compaixăo de nós!
Ele, logo que os viu, disse-lhes: Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, enquanto iam, ficaram limpos. Um deles, vendo que fora curado, voltou glorificando a Deus em alta voz; e prostrou-se com o rosto em terra aos pés de Jesus, dando-lhe graças; e este era samaritano.
Perguntou, pois, Jesus: Não foram limpos os dez? E os nove, onde estão? Não se achou quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro? E disse-lhe: Levanta-te, e vai; a tua fé te salvou. Então Jesus lhe perguntou: Não eram dez os que foram curados?Onde estão os nove? Lucas 17.11-19
O texto Bíblico segundo Lucas nos revela a fé que age e transforma a vida individual, mas a fé que sabe reconhecer a ação graciosa de Deus e rende graças pelo que nos é ofertado.
Os dez têm uma fé exemplar e são curados. Entrementes, somente um permanece com a fé, que agradece a Deus por sua graça.
Esse exemplo nos convida a refletir sobre a nossa vivência de gratidão, de agradecer pelo que a via nos oferta, muitas vezes adquirida com o nosso suor, dedicação. Quanto nos custa agradecer:
O corpo e seu funcionamento: Quando nos damos conta da perfeição do nosso corpo, de agradecer pelo seu funcionamento e pensar nos seus limites.
Os alimentos e o conforto do lar: Quantas vezes dispomos de tempo para refletir sobre a importância do alimento, de saboreá-lo com prazer, não desperdiçá-lo pensando nas pessoas que clamam por pão e de valoriza a comunhão de mesa.
As oportunidades recebidas: Em que momento pensamos nas pessoas que acreditaram e acreditam em nós, nos confiando responsabilidades, quantas vezes agradecemos o trabalho como uma oportunidade de crescer como pessoa.
As pessoas que trilham o caminho da vida: Quantas vezes temos coragem e sensibilidade de demonstrar o que sentimos pelas pessoas, de manifestar o nosso afeto, nosso respeito, e ter a honestidade e sinceridade de manifestar a nossa discordância.
O pulsar da vida a cada manhã: Quantas vezes dedicamos um tempo para pensar na nossa vida, para agradecer o fato de estarmos vivos e refletirmos sobre como cuidamos dessa dádiva.
As pessoas gostam de ouvir uma palavra de agradecimento, e isso lhe faz muito bem. O agradecimento também motiva as pessoas a ser solidarias, prestativas e hospitaleiras.
Quanto a prática da gratidão esta presente em nossa vida e em nossas relações?
P. Olmiro Ribeiro Junior
1ª Semana
“As pessoas felizes, abençoadas, não são apenas aquelas que mais têm, mas são justamente aquelas que são gratas pelo que têm, e consegue auxiliar a outras pessoas a descobrir a gratidão e a oferta.”
A gratidão de forma simplória é o ato de reconhecimento de uma pessoa por alguém que lhe prestou um benefício, um auxílio, um favor. No entanto, refletindo um pouco o tema podemos descobrir que gratidão nos remete ao sentido existencial de cada pessoa. Sou uma pessoa solidária, ou apenas consigo ver o meu próprio umbigo? Reconheço a mão de Deus e o auxílio de outras pessoas na minha trajetória, ou apenas vejo minhas atitudes e méritos.
A gratidão é uma forma de ver a vida em comunhão. Ou seja, não sou o centro da minha existência, preciso de outras pessoas e elas precisam de mim. Com isto, construo um estilo de vida que sabe agradecer por todos os momentos, que sabe ver o auxílio, as oportunidades, que outras pessoas me ofereceram, e igualmente, me torno alguém que auxilia e cria oportunidades de crescimento, de bênção para outras pessoas.
“Ser grato tem muito a ver com lembrar, guardar no íntimo. Só quem guarda as lembranças é capaz de gratidão. Assim podemos chamar a gratidão de “memória do coração”. A pessoa agradecida pensa com o coração, com a vida. Ela percebe e valoriza aquilo que recebe diariamente. Já a pessoa ingrata perde a sua humanidade no verdadeiro sentido da palavra, pois não lembra, não tem memória, e, esquece o que recebe todo o dia. Por isso o filósofo romano Cícero designou a ingratidão como esquecimento. Profetas, Sábios e pensadores da antiguidade caracterizavam a ingratidão com um pecado capital, como fraqueza e como incapacidade de pensar e refletir. Para eles era difícil encontrar pessoas inteligentes que fossem ou tivessem sido ingratas. Portanto a gratidão é o central na constituição da pessoa humana. A pessoa ingrata ainda não chegou a ser realmente uma pessoa.” Anselm Grüm – Despertar a Gratidão.
Que possamos abrir nossos olhos, mentes, corações e vidas para reconhecer as oportunidades que recebemos, e que possamos sempre relembrar delas. Não para nos vangloriar de nossas conquistas, mas para aprendermos o caminho de servir outras pessoas com a aquilo que temos e somos. No exercício continuo e diário da gratidão.
“O Amado Deus é a minha força e o meu escudo; nele confiou o meu coração, e fui socorrido; assim o meu coração salta de prazer, e com o meu canto, e vida eu rendo graças, agradeço ao Senhor.” Salmo 28.7
Paz e graça.
P. Olmiro Ribeiro Junior